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Spark Implosion
Criatividade grande, organização zero. Tentando transformar sonhos e ideias em obras concretas.
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Spark Implosion
Criatividade grande, organização zero. Tentando transformar sonhos e ideias em obras concretas.
Quem ele acha que é? Eu estive aqui desde o começo, sempre apoiando cada escolha e cada passo que ela deu. Eu a vi chorar e a vi rir. Já a vi mudar e já a vi amadurecer. Eu conheço cada detalhe sobre cada versão dela que ela já foi. Então pergunto novamente: quem este ser, egoísta e precoce na vida dela, acha que é para roubá-la de mim? Eu não posso deixá-la ir, não posso perdê-la.
Minha felicidade depende dela... EU preciso dela...
Por favor, não a leve embora...
Eu a amo...
O luminoso sol pode até aquecer tua alma, Mas o frio interno é apenas tu quem podes enfrentar. A escuridão e a solidão são inevitáveis, então aprenda a conviver com elas. Há beleza no escuro, tanto quanto no silêncio. Assim como no sussuro do vento. O vento é preciso, sempre sopra em uma certa direção. Tu não precisas seguí-lo todas as vezes. Mas não esqueças de ouvir o que ele tem a dizer. Às vezes, os sussuros te contam segredos, basta escutar. Da mesma forma, não se deixe levar pela lua, a deslumbrante musa pálida. Ou perderás as flores, tão atraentes quanto, que florecem sob seus próprios pés.
Trim trim Toca o telefone O exterminador aos seus serviços está O que? Uma praga Sim, é comigo mesmo Já estou indo pra lá
Ao chegar na cidade Vou para a casa da bruxa Nunca vi coisa mais estranha Cogumelos dourados E uma borboleta mutante Mas serviço é serviço E grana é importante
Ao me explicar o problema Já tenho a solução Um fantasma com algema Ou corvos no assoalho A bruxa apresenta objeção Sua casa é limpa E ela tem um espantalho
Investigo mais um pouco E noto algo diferente Uma coisinha voadora Que voa e segura um tridente É uma fada? Ou um tritão? Seja o que for A bruxa não quer aqui não
Então procuro Feitiço inteligente Que expulsará o ser estranho Da casa da minha cliente
Um dente de alho E uma folha de hortelã Uma pitada de canela E um pouco de perna de rã
Depois de mexer é só recitar O que consta no livro Que acabei de comprar Saia da casa, vou te expulsar Ser indefinido que quer tomar o lugar
Pronto Praga contida Dinheiro na conta corrente e Felicidade da cliente Garantida
Descobri que minha filha pretende se mudar, então decidi empacotar alguns dos brinquedos favoritos dela quando criança, como recordação da alegre infância que desejo que ela tenha tido. Não que eu não fosse uma boa mãe, mas nossa relação era difícil. Eu tentava ao máximo, mas ela nunca foi a mesma depois do acidente no circo.
Ao procurar no empoeirado sótão, no qual eu não mexo faz décadas, encontrei, soterrado por revistas antigas, meu baú de roupas da minha época como domadora de leões circense. Tudo está no lugar. Me lembra dos bons tempos, quando minha preocupação era apenas o sabor de pipoca que eu queria. Acho que se não fosse pelo acidente, cujas consequências são pagas até os dias atuais, eu ainda estaria lá: trabalhando ao lado de quem eu amava e fazendo o que eu amava todos os dias.
Penso todas as noites se fui eu que deixei o portão dos leões aberto. Será eu a culpada por toda aquelas mortes? Ainda torturo-me com as possíveis respostas. Não deveria ter aberto esse baú, apenas trouxe pensamentos ruins à mim. Antes de fechá-lo, notei um papel sobre minhas camisas. Não o tinha visto antes. Parece uma carta. Com cuidado abro-a e espanto-me ao perceber que o escritor dela é, conforme a assinatura, meu marido:
"Querida, não posso mais mentir para vocês, eu não quero mais essa vida. Tudo que fiz ainda me atormenta. Não posso viver assim. Leve nossa criança à um local seguro. Hoje encerrarei o ciclo que começou anos atrás. Amo vocês mais do que tudo no mundo, por favor, cuidem-se. - seu amado trapezista".
A data é do dia do acidente. Meu rosto derrepente começa a ficar úmido e logo as lágrimas começam a cair. O choro amargo se espalha pelas minha bochechas e meu coração aperta dolorosamente. Minha visão escurece. O silêncio é absoluto.
Um saltitante ser aquático, comedor de algas e farelo de pão, sempre teve planos maiores e mais ambiciosos do que ficar naquele minúsculo aquário monótono no qual seu dono o deixava. A atraente visão da janela, representando para nós apenas árvores secas e uma estrada escaldante, era um paraíso cobiçado aos olhos do dono de barbatanas ansiosas. Seu dono, confinado em um cubículo, trabalhando todo segundo e esgotando cada energia que possui, observava o aquário enquanto descansava atirado no sofá. Como ele almejava o sossego e a despreocupação que um aquário proporciona aos seus habitantes. Parece até que a vida, independente de sua forma, cria desafios proporcionalmente exatos para cada tipo de ser.